terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mudando de Endereço.

Amigos,

Esse é o último post nesse blog, estou indo pra minha casa nova.
www.menosdetudo.wordpress.com

Até lá.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Apenas mais um

Tinha prometido que não ia mais postar enquanto meu artista favorito não elaborasse uma nova cara para o blog, mas como hoje isso é mais do que um refúgio, não consegui me manter longe.

Hoje não tenho nenhum filme, livro, ou teatro pra comentar, apenas quero exercitar o ato de escrever. Escrever sobre a vida, sobre sentimento, sobre trabalho, sobre angústia...

Tempos complicados batem a porta e reviram a disposição da sala. É preciso se acostumar com o tapete fora do lugar, com a falta da televisão, com gente entrando e saindo o tempo todo e metendo o dedo em coisas que não lhe dizem respeito.

Odeio a ideia de usar o blog como uma diário virtual, lugar de desabafos em público, não pretendo expor minha vida ou problemas. Quero apenas escrever, escrever, e escrever......quem sabe me arriscar na ficção, mas sempre convicta de que a arte imita a vida.

Preciso de apoio.

sábado, 8 de agosto de 2009

Cuide de você

Recebi uma carta de rompimento.
E não soube respondê-la.
Era como se ela não me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: "Cuide de você".
Levei essa recomendação ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,
para interpretar a carta do ponto de vista profissional.
Analisá-la, comentá-lam dançá-la, cantá-la. Esgotá-la.
Entendê-la em meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim.

SOPHIE CALLE

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Quem nunca levou um pé na bunda? Acho difícil uma pessoa que não esteve nessa terrível e dolorida situação.
Mexe com o ego, a altoestíma, como assim não me querer mais? Mas com o tempo a dor ameniza, passa, e isso todos sabemos, a questão é como lidar com ela enquanto ela ainda está dentro do peito.

Nessas horas a senssibilidade dos artistas é inquestionavelmente superior as nossas, simples mortais. Dirá Sophie Calle.

A exposição da artista francesa, que fica no Sesc Pompéia até 7 de setembro e que teve sua primeira exposição na última Bienal de Veneza, é a resposta dela para um fora que tomou, via email, de um ex-namorado, o escritor Grégoire Bouillier.

Como forma de superar a dor Sophie convidou 107 mulheres, de diferentes profissões, para interpretarem a carta de acordo com suas atividades, como uma cartomante, uma escritora, uma juíza, uma bailarina...simplesmente genial!

E pensar que a primera vez que eles se encontraram depois de tudo isso foi na Flip, e eu estava presente na mesa, é uma coisa muito engraçada, parece que agora faço parte da história. Eita confusão do que é público e do que privado.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Festa da Menina Morta

Tempos e tempos sem aparecer por aqui, é que a vida tem dado corda e foi preciso correr por ai, levantar voo, sair de vez da zona de conforto. A insegurança é inevitável, mas é preciso aprender a conviver com ela e depois driblar-lá, senão não se vai pra frente, nem pro lado, nem pra trás. Pra trás não, por favor.

Desabafos a parte, ao que interessa.

Ontem fui assistir "A Festa da Menina Morta", filme de Matheus Nachtergaele, o primeiro com sua direção. Admito que fui cheia de expectativas, afinal, o cara é um ator genial, um dos melhores na atualidade, sem sombra de dúvidas.

Logo nas primeiras cenas, e nos primeiro diálogos, algo me chamou a atenção: Aquilo era o Matheus. As falas só poderiam ter sido feitas por ele, cada gesto de cada personagem remetia a ele, e ao longo do filme cheguei a uma conclusão: Matheus Nachtergaele podira ter interpretado todos os personagens. Tudo ali é muito autoral.

Mas o que realmente surpreende e enche de alegria são as cores, cenas, e câmeras que, competentemente, Matheus dirigiu com maestria. Toda a beleza do filme lembra uma outra obra prima do cinema brasileiro, Lavoura Arcaica.

Outra semelhança aproxima os ótimos filmes. Se em Lavoura Selton Mello supreende com sua atuação no papel principal, Daniel de Oliveira escancara todo seu talento em Festa da Menina Morta, mostrando que realmente é um mostro, um dos melhores da nova geração, para a nossa felicidade, da brilhante geração do novo cinema brasileiro.

E é a direção e a atuação de Daniel que fazem o filme valer a pena, pois a história se perde em algum lugar, não se desenrolando.

Recomendo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Os reis preguiçosos


Sei que já é tarde para comentar, mas como diz o velho ditado, “antes tarde...”
No último fim de semana a cidade de São Paulo ficou mais alegre e colorida. A companhia de teatro Francesa Transe Express nos presenteou com a apresentação da peça “Os reis preguiçosos” no Parque da Independência.
Confesso que nunca tinha visto algo tão mágico. A apresentação da peça foi itinerante, seis carros alegóricos e 50 atores da trupe francesa percorreram toda a área do parte encenando, cantando, e enchendo os olhos de quem estava lá.
Outra coisa que chamou muito a atenção foi a quantidade de pessoas que estavam lá, o Parque da independência estava completamente lotado, cheio de gente de todas as idades, crianças com os olhos arregalados com tanta beleza, adultos que voltaram a ser crianças. Sem contar que o parque, com o Museu do Ipiranga aos fundos já uma grande atração. Lindo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Peixes, Pássaros, Pessoas


Na segunda-feira entrevistei a Mariana Aydar para uma matéria que estou fazendo. Seu eu já gostava do trabalho do trabalho dela, agora virei fã!


Além de hiper talentosa, a Mariana é linda, muito simpática, e está fazendo música de qualidade com o coração. É possível ver nos olhos dela que, diferente dessa maioria oportunista, a sinceridade e o amor que ela trasfere para música são verdadeiros.


Recentemente ela ela lançou seu segundo cd "Peixes, Pássaros, Pessoas" quem quiser conferir o link do My Space é www.myspace.com/marianaaydar .

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Unidade misteriosa esconde jovens infratores

matéria da caros de julho.

Criada em 2006, a prisão-hospício é um depósito do Judiciário onde estão internados os casos considerados perigosos devido ao diagnóstico de “transtorno antissocial”.

Se Roberto Aparecido Alves Cardoso não fosse interno da Unidade Experimental de Saúde (UES), na Vila Maria, em São Paulo, quase nada se saberia do lugar. Digitando o nome da instituição no Google, 1.022 ocorrências aparecem, a maioria sobre o dia em que o jovem foi encaminhado para lá.
Roberto Alves Aparecido Cardoso, mais conhecido como Champinha, foi um dos acusados pelo assassinato do casal Liana Friedenbach e Felipe Caffé, na cidade de Embu Guaçu, em São Paulo, no ano de 2003. Os jovens, que eram estudantes do São Luiz, colégio da burguesia paulistana, namoravam e foram acampar durante o feriado sem que suas famílias soubessem.
Em um primeiro momento foram dados como desaparecidos, mas dias depois o mistério se revelou: o casal foi sequestrado por moradores da região. Felipe foi morto com um tiro de espingarda disparado por Paulo César da Silva Marques, o Pernambuco. Liana foi mantida em cárcere privado sendo estuprada e torturada, até ser morta a facadas por Champinha.
Todos que fizeram parte do crime - além dos já citados participaram do estupro Antônio Caetano, Antônio Matias e Agnaldo Pires - foram condenados. Champinha, na época com 16 anos, foi levado para a Febem, hoje Fundação Casa, para cumprir os três anos previsto pelo ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, em medida socioeducativa.
Um dos poucos links que aparecem no Google, e não ligam Champinha à UES, é do próprio site da Fundação Casa. O conteúdo, do ano de 2006, informa sobre a construção da Unidade. A proposta era criar na cidade de São Paulo um sistema de referência no tratamento de jovens que cumprem medida socioeducativa e apresentam distúrbios psicológicos, através da parceria Fundação Casa (na época FEBEM), a ONG Santa Fé, e a Universidade Federal de São Paulo, que se responsabilizaria pelo tratamento psiquiátrico. Era um terreno com cinco casas, abrigando até oito jovens cada.
“O que a gente escuta nos bastidores é que o Dr. Raul Gorayebe, professor de psiquiatria da Unifesp e idealizador do projeto, queria escolher tanto os profissionais, quanto os jovens que iriam ser encaminhados para a Unidade, e a Fundação Casa não concordou. Com isso a parceria foi quebrada”, conta Fernanda Lavarello, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Com a parceria desfeita, e a obra concluída, a UES ficou seis meses vazia.

Champinha e a UES

Pouco antes de Champinha completar três anos da medida socioeducativa, e ser colocado em liberdade, o Ministério Público entra com o processo para converter a medida socioeducativa em medida protetiva de tratamento psiquiátrico com contenção, o que garantiria sua permanecia na Fundação Casa até os 21 anos.
Na iminência da segunda medida se extinguir, o Estado entra com pedido de interdição civil cumulada com internação hospitalar compulsória no Fórum de Embu Guaçu. A juíza expede uma liminar favorável ao Estado, pedindo a transferência de Champinha para a Casa de Custódia de Taubaté.
A internação hospitalar compulsória, modalidade mais grave prevista pela lei 10.216/2001 da Reforma Psiquiátrica, não deriva de um crime, mas de um laudo médico que constate a necessidade do internamento. A gravidade é que a internação independe da vontade da própria pessoa, ou de sua família.
“Para esse tipo de internação, o artigo sexto da lei diz que é necessário fazer um laudo médico circunstanciado (naquela oportunidade), e isso não aconteceu, eles usaram os laudos feitos na ocasião da medida socioeducativa”, diz Daniel Adolpho Assis, do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDACA Interlagos), e advogado do jovem. Outra inconsistência que Daniel aponta na liminar, é que Champinha não poderia ser encaminhado para a Casa de Custódia de Taubaté por ele ainda estar sob respaldo do ECA, além de que a Casa de Custódia só recebe adultos que cometeram crimes e apresentam transtorno mental.
Nesse meio tempo Champinha foge da Fundação Casa, logo é pego e levado para a UES.

A refundação da UES
Depois de seis meses vazia a UES recebe seu interno mais famoso em maio de 2007. Em novembro desse mesmo ano o governador de São Paulo, José Serra, expede o decreto 52.419/2007, transferindo o imóvel da UES para a Secretaria de Saúde. Um Termo de Cooperação Técnica entre Saúde, Administração Penitenciária, e Fundação Casa firmava que a UES abrigaria adolescentes e jovens, autores de atos infracionais que cumpriram medida socioeducativa, e tiveram sua medida revertida em protetiva, já que apresentam diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial, e/ou alta periculosidade.
Segundo a juíza corregedora do DEIJ, Departamento das Execuções da Infância e da Juventude, Mônica Paukoaski, a saúde mental é um dos fatores importantes que fazem parte da trajetória de recuperação dos adolescentes autores de atos infracionais, já que esses problemas interferem diretamente no resultado do processo sócio-educativo. “Os laudos do Imesc, Instituto de Medicina Social e Criminologia, apresentaram ao Judiciário a necessidade do jovem portador de transtorno mental (os mais comuns eram deficiência mental, esquizofrenia, e transtorno de personalidade) ser acompanhado em local adequado sob contenção”, completa.
“Essa nova Unidade vai na contramão de todas as conquistas da luta antimanicomial e do ECA. O que eles fizeram foi um manicômio judicial para jovens”, diz Fernanda Lavarello, que também faz parte do Grupo Interinstitucional, que debate questões sobre criança/adolescente, justiça, e saúde mental.
A luta antimanicomial é travada no Brasil desde a década de 1980, e sua principal conquista foi a aprovação da lei 10.216/2001, que garante ao portador de transtorno mental que a internação só será indicada depois que todos os recursos extra-hospitalares de tratamento se esgotarem.
Segundo Maria Cristina Vicentin, professora do programa de pós-graduação em Psicologia Social da PUC-SP, alerta para que a cidade de São Paulo colocou diversos impasses durante o processo de construção da reforma de saúde mental, como o lobby dos hospitais psiquiátricos que visam interesses mercantilistas na saúde. Para ela, a relação entre periculosidade e loucura é historicamente construída no começo do século XIX, por psiquiatras que entendiam a sua ciência como aquela capaz de identificar a dimensão mais íntima do sujeito que pode emergir a qualquer momento. “Depois da Segunda Guerra Mundial profissionais dos diversos campos se juntaram para fazer a desconstrução dessa idéia, respaldados por estudos epidemiológicos e estatísticos que mostram que não existe proporcionalmente um número maior de pessoas com transtorno mental que cometem atos infracionais, assim os loucos cometem tantos crimes como os ditos normais.”
Em uma pesquisa feita entre os anos de 2005 e 2006, antes da inauguração da UES, a professora apontava para o fenômeno de psiquiatrização do jovem autor de ato infracional, um modo de gestão que usa o transtorno mental para provocar mecanismos de segregação e ampliação do tempo de internação.
Outro fator identificado é a volta do diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial, “foi o caso do Roberto (Champinha) que trouxe isso, pois a mídia e a opinião pública fizeram uma pressão tão grande que ou se revia a maioridade penal, ou aumentaria o tempo de internação, que é um projeto em andamento. Mas, como nada saiu do papel, utilizar os mecanismos de internação psiquiátrica, mais interdição, foi o jeitinho que eles deram para driblar a lei”.

Transtorno antissocial
Entre os transtornos de personalidade identificados pelo Imesc está a personalidade antissocial, “na maioria dos casos não havia diagnóstico fechado, mas que o jovem apresentava traços de tal personalidade”, conta a juíza Mônica Paukoaski.
O diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial é questionado por algumas áreas da psicologia, apesar de constar na Classificação Internacional de Doenças Mentais.
Segundo Fernanda Lavarello, é a análise de um comportamento que foi externalizado a partir de um ato de transgressão, negando toda a historicidade do sujeito e o fato de o crime ser produto de vulnerabilidade social. “O cometimento de um ato infracional não implica no cometimento de transgressões futuras, ninguém tem bola de cristal para prever o que vai acontecer.”
Depois do Termo de Cooperação Técnica assinado, mais cinco jovens foram encaminhados para a Unidade Experimental de Saúde, todos com o mesmo diagnóstico: transtorno de personalidade antissocial e alto grau de periculosidade.
E a juíza Mônica Paukoaski alerta: “Apesar de se tratar de questão polêmica, não foi o judiciário que preconizou a necessidade de atendimento sob contenção, mas os médicos de órgão oficial do Estado. Além de que os jovens que se encontram hoje na UES não estão internados por determinação do DEIJ, mas foram interditados pela justiça comum.”
No caso específico de Champinha, “o Roberto foi pego como bode expiatório para inaugurar essa instância arbitrária e de exceção que a Justiça está utilizando. Todos os jovens que estão lá cometeram crimes contra pessoas da classe média e alta em suas cidades de origem, que ganharam grande repercussão na mídia”, diz Daniel Adolpho. Este completa sua denúncia: “ninguém tem coragem de cumprir a lei e assinar pela libertação do Roberto porque ninguém quer enfrentar a opinião pública e o pai da Liana, que tem bastante influência financeira e política..”
A juíza rebate a crítica, “Se existe uma anomalia psíquica, e a área médica aponta isso, não podemos devolvê-los à sociedade sem o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.”
Mas há outras s irregularidades. Daniel Adolpho conta que não existe um regimento interno da Unidade, que quem é internado não tem previsão do tempo de pena que irá cumprir, e que nenhum tratamento psíquico acontece no local. “O que o Roberto me conta é que mais ou menos a cada 15 dias vai um psicólogo lá, conversa um pouco com ele, pergunta precisa de algum remédio, e só. Nem o jovem, nem o seu defensor público, podem ter acesso ao prontuário médico, violando mais uma vez a lei 10.216.”
“Mesmo quem se diz defensor dos direitos humanos torce o nariz quando se fala sobre o caso do Roberto, mas é importante saber que quando ele fosse liberado ele não ia simplesmente sair da Fundação Casa. As psicólogas que acompanharam todo o processo dele já estavam articulando uma rede em outro estado pro qual ele e toda a sua família mudaria. Eles entrariam no serviço de proteção a testemunha, se necessário até mudariam de nome, com isso ele continuaria tendo um acompanhamento judicial”, finaliza Fernanda Lavarello.

Ninguém sabe, ninguém viu.
A assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde foi procurada pela reportagem para tentar uma entrevista com o chefe de Gabinete Nilson Paschoa. A resposta foi: “O que temos a informar é que a decisão sobre a internação das pessoas atendidas na Unidade Experimental de Saúde é feita pela Justiça. A Secretaria de Estado da Saúde mantêm esta estrutura para atender pacientes encaminhados por decisão judicial.”
Tanto os laudos periciais que encaminham os jovens para a UES, quanto o tratamento psiquiátrico daqueles que cumprem medida socioeducativa na Fundação Casa são feitos pelo Nufor, Núcleo de Psiquiatria Forense do Hospital das Clínicas. O coordenador do núcleo, Daniel Martins de Barros, informou:
“O Nufor vem prestando assistência psiquiátrica apenas aos internos da Fundação Casa em unidades regulares da capital. A Unidade Experimental de Saúde não está sob responsabilidade da Fundação Casa, não fazendo parte do nosso escopo de assistência.”
Também foi procurado Vitor Manuel da Silva Monteiro, diretor da UES, mas um funcionário da administração disse que ele estava de férias fora do Brasil e não havia ninguém ocupando seu cargo nesse período, além de que nenhum funcionário estaria capacitado nem autorizado para falar com a imprensa.
“A Unidade Experimental de Saúde desvirtuou-se do seu caminho e não está funcionando da forma proposta pelo judiciário, jamais uma unidade de saúde mental deve assumir feições de manicômio judiciário. O transtorno de personalidade antissocial é um diagnóstico sério que precisa ser enfrentado com responsabilidade. Jovens que contam com esse diagnóstico precisam de uma atenção especial, a idéia não é segregar, mas acompanhar o jovem até que se obtenha algum avanço”, finaliza a juíza Mônica Paukoaski.

Camila Martins é repórter.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

sábado, 4 de julho de 2009

O Chico parou a Flip!

A mesa mais esperada da sétima edição da Flip, Feira Literária Internacional de Paraty, aconteceu ontem as 19 horas, mas o frison provocado pela presença de Chico Buarque no evento agitou o dia de todas as pessoas que esperavam para vê-lo.
Ao andar pelo pelo Centro Histórico da cidade, os ouvidos mais atentos percebiam que o assunto era apenas Chico. Tanto a Tenda dos Autores, como a Tenda do Telão, abrem suas portas cerca de 15 minutos antes do início da mesa, e o público ocupa seus lugares tranquilamente, mas como era de se esperar as coisas não foram bem assim para ouvir o autor de Leite Derramado.
Mais de uma hora antes do início da mesa filas enormer se formaram na entrada das duas Tendas. Mulheres alucinadas queriam sentar o mais perto possível do ídolo, mesmo que para algumas ele seria visto apenas pelo telão.
Tietagens a parte, a mesa Sequências Brasileiras trouxe o debate de dois livros ficcionais que em poucas páginas contaram parte da história do Brasil. O escritor Milton Hatoum, ganhador de dois prêmios Jabutis, falou sobre "Órfãos do Eldorado", novela que se passa no interior da Amazônia, relata o episódio da Cabanagem, conta os mitos que rondam a floresta.
Acusado de fazer uma literatura regionalista, já que é de Manaus, Hatoum frisou: "com esse mundo globalizado faço cada vez mais questão de fazer uma literatura regionalista, de preservar a história."
Chico comentou seu último livro, Leite Derramado, um dos romances mais lidos do ano. Sobre o processo de criação disse que "escrever é uma chatisse", e que é muito difícil se livrar do personagem depois do término do livro. Uma conhecidência engraçada foi que Chico quebrou sua perna depois do lançamento, motivo pelo qual o personagem principal do livro está internado em um hospital.
O mediador da mesa Samuel Tital Jr., professor de Literatura Comparada da USP, chamou atenção pelas semelhanças que aparecem nas duas narrativas, entre elas que as personagens principais se apaixonam por "mulheres poderosas, feitas de quase nada." Titan também disse que Hatoum e Chico eram um dos autores contemporâneos mais importantes.
Pouco antes do debate terminar a fila na Tenda dos Autógrafos já tomava uma proporção assustadora, e o aviso foi dado: Chico assinaria apenas 100 livros e não tiraria fotos com as pessoas. Pode soar um tanto arrogante, mas quem visse as mais de 300 pessoas se estapiando pela assinatura do autor acharia a medida prudente.
Exageros a parte, um fato é impossível de não se constatar. Chico Buarque é uma unanimidade, e literalmente parou a Flip.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O primeiro dia de Flip

Uma noite agradável cheia de cores e luzes. Foi nesse clima de festa que os inúmeros turistas, e moradoradores da charmosa cidade de Paraty, deram início a Flip 2009, Feira Literária Internacional de Paraty que na sua sétima edição homenageia o poeta pernambucano Manuel Bandeira.
Durante os cinco dias de festa, de 1 a 5 de julho, escritores, jornalistas, e críticos literários, se revezarão na Tenda dos Autores para debater a obra de Bandeira e o seu legado poético. Mas como todos os anos a Flip trás uma programação eclética, contando com vários palestrantes internacionais que falarão sobre música, as questões feministas, e as artes em geral.
As atrações mais esperadas são as mesas de debates que estarão o cantor e escritor Chico Buarque, falando sobre seu novo livro Leite Derramado; e a do pai do New Journalism Gay Talese.
A Conferência de Abertura trouxe o crítico literário e estudioso de Bandeira, Davi Arrigucci Jr., autor do ensaio "Humildade, paixão e morte", que em mais de uma hora de conversa contou um pouco da sua história como leitor de Manuel Bandeira, e explicou seus recursos de análise da obra do poeta.
Quem assistiu a conferência da Tenda do Telão teve um imprevisto desagradável. Falhas tecnicas impediram em diversos momentos a imagem ser reproduzida no telão, e quando ela aparecia estava em preto e branco.
Depois da abertura Adriana Calcanhotto agitou o público com o show Maré.
Isso tudo foi só o começo, Paraty ainda tem muita história pra contar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Agora jornalismo é para quem quiser, graças a Deus

artigo do Ziba sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo, no site www.carosamigos.com.br

Por Marcos Zibordi

Ok, sou mais um a escrever sobre o fim da exigência do diploma para jornalistas. Relutei em fazer este artigo, mas a indignação dos profissionais me toca. Estão putíssimos, é fato. Meus alunos, preocupados. Eu adorei. Agora, jornalismo é para quem quer fazer jornalismo, não para quem teve a chance econômica de adquirir o diploma que permite exercer a profissão.Sem dúvida, as razões de Gilmar Mendes e seus pares são equivocadas – eles pensam que o jornalismo não pode prejudicar a sociedade, opinião realmente inacreditável.
Contudo, assusto igualmente com os argumentos dos jornalistas, especialmente um: o diploma garante, no mínimo subsidia, a qualidade do exercício profissional. Será preciso lembrar quantos casos para demonstrar o contrário? Escola Base? A edição do debate Lula-Collor? A sanha de abutres na morte de Isabella Nardoni? Ou o assassinato de “garota Eloá”, promovido por diplomados?
Aliás, menos: é só ler jornais, revistas; acompanhar rádio e televisão; ler os famigerados releases das assessorias de imprensa. Em geral, o jornalismo praticado no Brasil é tecnicamente medíocre, a repetição de si mesmo, quem viu um viu todos. Não falo de ética, compromisso social, não sonho tanto. Penso na proclamação do textozinho padrão, o verbo “disse” após a citação, a malandragem da isenção, da imparcialidade, a incapacidade narrativa, a capacidade de aliciar sem ser sexy.
O jornalismo brasileiro ainda não decidiu se pronuncia “risco de vida” ou “risco de morte” e chama o PCC de “quadrilha que age dentro e fora dos presídios”, evidenciando-os com a expressão pomposa que pretendia ocultá-los.Os jornalistas também esperneiam pela possibilidade de perderem conquistas históricas. Ora, por séculos existimos sem diploma, coisa que imperou no Brasil por somente 40 anos. Não estou negando os nacos arrancados a duras penas das montanhas de dinheiro desse bando de Tio Patinhas, empresários da comunicação. Porém grandes conquistas dos trabalhadores em jornalismo são anteriores à ditadura e à exigência do diploma, tipo a instituição do primeiro piso salarial e da jornada de cinco horas, resultado da greve de 1961, organizada pelo sindicato dos jornalistas de São Paulo - mas quando foi mesmo a última greve dos jornalistas, a mobilização que deu notícia?
Fico me perguntando sobre a nossa situação. Pesquisas demonstram que a profissão figura entre as mais insalubres e, após quarenta anos da “categoria organizada” no Brasil, somos explorados ao extremo, recebemos miséria, trabalhamos pra cacete. Sabe qual o salário de um jornalista na capital paulista? O piso é de R$ 1.738,25 para quem trabalha cinco horas (duvido que exista um) em jornal ou revista. No interior, rádios e televisões pagam R$ 861,85.
Imagino que vários cozinheiros ganhem melhor.Sobre os presumíveis direitos dos jornalistas, risíveis. Inúmeras redações funcionam com legiões de diplomados “contratados” temporariamente. A Editora Abril, a maior do ramo, ajusta freelancers por exatos dois meses e 29 dias, para não caracterizar vínculo empregatício aos três meses. Surgiu “no meio jornalístico” a expressão de todo escrota: “frila-fixo”. Designa o jornalista temporário que trabalha direto e reto na mesma empresa, às vezes anos, sem nenhum direito.
Para os que defendem seus canudos, duas perguntas: por que vocês aceitaram e aceitam ter aulas, talvez a maioria delas, com professores que não são nem nunca foram jornalistas, inclusive em disciplinas específicas? Não seria mais, digamos assim, lógico, receber formação de gente da área, já que, como diz a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o jornalismo é “uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética”?Há ainda o argumento da “contratação de qualquer um” pelas empresas de comunicação.
Percorri os telejornais e desde a decisão do Supremo Tribunal Federal não assisti a cena clássica, filmada do helicóptero, a fila de candidatos a emprego dobrando a esquina, hordas de bárbaros aspirantes ao jornalismo prestes a invadir as redações, suas pastinhas nervosas no sovaco, o currículo dentro. Não haverá “invasão”, palavra que amestrados diplomados usam sempre para denegrir a legítima e última solução da gente mais explorada deste país. Amestrados: são conhecidos “no meio jornalístico” pela acrobática alcunha de “focas”. Com o fim da reserva de mercado, lo siento, os penetras com vocação e preparo, sim, concorrerão com nosotros. Dando aulas em cursinhos populares, inclusive dentro da Universidade de São Paulo (USP), cansei de ouvir lamentações de jovens pobres que sonhavam um dia ser jornalistas, mas não podiam, não poderiam nunca concorrer à vaga na universidade pública, nem financiar a particular. Treta, né? Quanto vale um sonho impedido?Por fim, relaxem, os cursos de jornalismo sobreviverão, e nem sei se precisarão justificar sua existência. Em geral eles prestam enorme serviço aos patrões formatando o futuro profissional, aulinhas de lide durante meses, exercícios práticos que achatam a criatividade, a sagacidade, o tesão dos alunos com asneiras do tipo “não use adjetivo”, “seja objetivo”, “seja imparcial”. Não duvido nada que permaneçam as picaretagens típicas de sala de aula, aqueles mestres que vivem de um difuso, duvidoso e remoto passado profissional, ou os chatos capazes de criar esta impossibilidade ambiental: o clima de marasmo tenso.
Continuidades à parte, torço agora pelo próximo passo evolutivo: a extinção da obrigatoriedade do diploma de Direito. É praticamente impossível, eu sei, inclusive a Ordem dos Advogados do Brasil apóia a exigência para jornalismo, imagina se mexerão no deles. Mas não custa nada sonhar com o dia em que velhinhos não precisarão mais recorrer a um advogado para pedir revisão de aposentadoria, por exemplo.

Marcos Zibordi é jornalista.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Apenas o fim


Há tempos eu não me divertia tanto em um filme como me diverti assistindo "Apenas o Fim", filme de Matheus Souza, feito no ano passado.

A menina (Érika Mader) resolve mudar de cidade e de vida, deixando tudo pra trás, inclusive o namorado (Gregório Duvier), e ela vai procurá-lo na faculdade para passar a última hora deles juntos.

O filme é todo radado na PUC-RIO, e Matheus Rocha era aluno do 5º período de cinema quando o filmou, junto de uma equipe formada também por alunos do curso.

"Apenas o Fim" recebeu o prêmio de melhor filme do Jure Popular, na 32º Mostra de Cinema Internacional de São Paulo.

O roteiro do filme é muito bom, diria até que dá pra se identificar com eles em diversos momentos. =)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Mulheres de Coragem

matéria que está na Caros Amigos de junho, espero que gostem.

Vítimas da violência doméstica, elas encontram nas casas-abrigo a proteção e a chance de mudar de vida

Camila Martins

Ana é a responsável pela limpeza do centro social de uma igreja na grande São Paulo. Morena bonita, beirando os 35 anos, conversa bastante e sorri enquanto trabalha. Quando dá meio-dia, hora de seu almoço, avisa: “Vamos porque só tenho uma hora.” Enquanto seguimos em direção a uma das salas, explico que a matéria é sobre abrigos para mulheres que sofrem violência doméstica. Ana começa a tremer, e assim que sentamos ela diz, com voz engasgada: “falar disso ainda é muito difícil pra mim.”
Baiana de Salvador, Ana conheceu seu ex-marido, D., quando ainda era menina. “Ele sempre ficou atrás de mim, dizendo que me amava, até que, aos 18 anos, aceitei namorar com ele”. Depois de um tempo juntos, D. mudou-se para São Paulo para “tentar a vida”. Sete meses depois, Ana foi fazer uma visita ao namorado, e acabou ficando. Nunca suspeitou da agressividade do companheiro.
O primeiro soco aconteceu depois de quatro meses na capital paulista. “Estávamos em uma festa quando percebi que ele estava me desrespeitando, dando em cima de outras mulheres na minha frente. Falei isso pra ele, mas ele não respondeu nada. Assim que chegamos em casa, ele se transformou. Trancou a porta do quarto e me deu um soco na cara. Me fez deitar de lado no chão, sem roupa, e disse que se eu me mexesse ia me esfaquear. Fiquei assim das seis da manhã até às sete da noite”, recorda Ana. A alegação que D. dava para bater na esposa era que Ana não era mais virgem quando começaram o relacionamento.
Também foi nessa época que D. ficou desempregado e entrou para a vida do crime. Não demorou muito pra que fosse preso. No feriado de sete de setembro, Ana estava em casa quando o marido apareceu. Tinha fugido. “Fiquei com medo, mas deixei que ficasse lá porque eu ainda gostava dele. Foi dessa vez que eu engravidei. Em nenhum momento ele aceitou a gravidez, me batia e xingava toda hora, dizia que ia abrir minha barriga com a faca e tirar a criança de dentro.”
Com o tempo, as agressões foram aumentando. Ana era agredida verbalmente. Tapas e pontapés também eram comuns. Até que chegou a vez do abuso sexual.
Depois de um assalto que D. e os amigos fizeram, eles foram comemorar com uma festa na casa de Ana, que durou o dia todo. “Eles usaram muita droga. Fiquei esperando do lado de fora, até que anoiteceu e eu precisava colocar meu filho pra dormir. Quando entrei em casa, ele olhou pra mim e disse: ‘me espera lá em cima porque hoje eu estou animado e quero transar com você a noite inteira’. Deitei na cama e fingi que estava dormindo, estava morrendo de medo. Quando ele chegou perto, cumpriu o que disse. Me estuprou durante toda a noite.”

Mais violência
Ana não reagia. Entrou em depressão, largou o emprego, parou de tomar banho e chegou a pesar 38 quilos. Só saía de casa às segundas-feiras, para levar o filho na fonoaudióloga. Nunca buscou ajuda, até o dia da inauguração de uma Casa de Referência em sua rua. No entanto, mesmo sabendo dos seus direitos, Ana não quis fazer boletim de ocorrência.
Só depois da terceira fuga de D. da penitenciária, Ana começou a mudar de opinião. Mesmo sem ter mais nenhum vínculo afetivo com o marido, ela aceitou a permanência dele na casa até que arrumasse um lugar para ficar. Enquanto isso, ele dormiria em um colchonete na cozinha. As agressões só pioraram.
“Ele me xingava o dia inteiro de puta, de vagabunda, dizia que eu só estava fazendo aquilo porque estava com outro homem. Era tanto palavrão que o meu filho falava: ‘respeita a minha mamãe, meu papai’”.
Muitas noites, Ana acordava assustada achando que estava sendo alisada. “Tinha certeza que ele estava fazendo isso, mas fazia eu me passar por louca”. Certa vez, acordou no meio da noite com um barulho de faca raspando no chão. “Fui correndo na cozinha ver o que estava acontecendo, abri uma das gavetas e vi que o facão de cortar coco tinha sumido. Ele começou a dar risada e me mostrou o facão escondido embaixo do colchão, disse que ia me matar naquela noite. Acho que ele só não me matou porque meu filho ajoelhou nos pés dele implorando pra ele não fazer nada.”
O ponto final chegou no dia em que Ana virou a agressora. “Mais uma vez, durante a noite acordei com ele querendo se masturbar em cima de mim, com o meu filho deitado do meu lado. Fiquei maluca, fora de mim. Cravei minha unha na bochecha dele até sair sangue. Ele não teve reação nenhuma, só pedia para eu parar de fazer aquilo em nome do nosso filho – argumento que eu sempre usava quando ele me batia. Enquanto isso, eu enchia ele de soco, de mão fechada mesmo. Mordia com tanta força, que tirava os pedaços de carne da boca. Só parei quando meu filho acordou chorando e viu o pai todo ensanguentado. Foi ali que eu vi que não podia mais continuar naquela vida, dentro daquela casa. Quando amanheceu, o D. saiu, eu peguei algumas peças de roupa, filho, cachorro, e fui direto pra Casa de Referência. De lá, fui levada pra um abrigo”.

Luta do movimento feminista
“Mas o que é um abrigo?”. Tal pergunta, que não saía da cabeça de Ana durante o percurso entre a Casa de Referência e o local, também é uma questão obscura pra maioria da população. Geralmente confundido com albergues para pessoas que estão em situações de desamparo social, como andarilhos e meninos de rua, as casas-abrigos são resultado dos anos de luta do movimento feminista no Brasil.
Durante a década de 1970, o Brasil vivia seus anos mais duros. A ditadura militar assolava o país com repressão e tortura. Enquanto o debate sobre o tema fervilhava, o movimento feminista trazia a público outro tipo de violência que acontecia no âmbito privado, a violência contra a mulher.
O período foi marcado por dois assassinatos que ganharam grande repercussão. Em 1970, o procurador da Justiça Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo matou com 11 facadas a esposa Margot Proença Gallo. Em 1976, Doca Street atirou três vezes no rosto e uma na nuca da namorada Ângela Diniz. Ambos os assassinatos foram motivados por ciúmes e supostas traições, e, quando levados à justiça, foram justificados como legítima defesa da honra.
No entanto, foi só na década de 1980 que os assassinatos de mulheres pelos seus parceiros foram reconhecidos como crime. Mais uma vez, as feministas tomaram à frente, na ausência de políticas públicas para o tema. Assim, criaram, em 1980, o SOS Mulher, centro de apoio que contava com trabalho de advogadas, psicólogas e grupos de reflexão, tudo com trabalho voluntário.
Pouco depois, foi criada a Delegacia da Mulher, e em 1986, a Secretária de Segurança Pública montou o Comvida, Centro de Convivência para Mulheres Vítimas de Violência Doméstica, primeira casa-abrigo do Brasil. Hoje, o país conta com 70 abrigos, sendo 16 deles no Estado de São Paulo.
A casa abrigo é o local onde são levadas mulheres que estão sendo ameaçadas de morte por seus companheiros. Com endereço sigiloso, a mulher que procura esse serviço já é vítima de violência doméstica crônica.
Quando consegue identificar essa situação, é necessário que ela deixe tudo pra trás: casa, emprego, amigos. É recomendável, até, que tire o filho da escola. Só assim consegue preservar sua vida. E foi isso que aconteceu com Ana.

Políticas públicas
Mas o abrigo não é um hotel, nem um mero depósito de mulheres. Quem explica a função do serviço é a teóloga Haidi Jarschel. De acordo com ela, para apresentar resultados, uma política de abrigo deve estar ancorada em um tripé: “Na segurança e proteção das mulheres e seus filhos, garantindo boas instalações, alimentação, higiene, e ética dos profissionais em relação ao sigilo absoluto do lugar; no trabalho psicossocial, no sentido de fortalecer essas mulheres para elaborar um novo projeto de vida que rompa com o ciclo de violência; e na rede de políticas publicas em volta que possam oferecer suporte quando ela sai do abrigo. E este é o grande problema”.
Haidi foi por vários anos coordenadora do Abrigo Regional do ABC, projeto bem sucedido que, através de um consórcio entre as sete cidades da região, já atendeu centenas de mulheres.
Para a teóloga, o trabalho regional é interessante não só pelo fato dos municípios dividirem os gastos com o serviço, que custa, em média, de R$ 800 a R$ 1000 por pessoa (esse valor inclui apenas alimentação, água, luz, e pagamento dos profissionais que trabalham na casa); mas porque também contribui com a segurança da mulher.
No entanto, mesmo com todos os benefícios que o abrigo pode proporcionar, ele não deve ser entendido com um fim, nem mesmo trabalhar sozinho, apontam especialistas. Hoje, o serviço de apoio à mulher encontra-se ancorado na tríade: casa de referência, delegacia da mulher e casa-abrigo. Porém, todas as entrevistadas registraram o sucateamento das delegacias, que trabalham com funcionárias mal treinadas.
De acordo com a coordenadora da Casa de Referência Eliane de Gramont, Graziela Acquaviva, o abrigo também tem que estar ligado a uma rede de políticas públicas em sua volta. No entanto, na prática, não é isso que acontece, pois “em tempo de Lei Maria da Penha, o abrigo deveria ser o último dos recursos. Se a polícia garantisse a segurança daquela mulher que conta com a medida de proteção que impede a aproximação do marido, ela não precisaria deixar tudo pra trás”, critica.

Ausência de dados
Graziela lembra também que “outra coisa muito importante que não existe é uma política de aluguel social, que seria uma alternativa ao abrigo, pois a mulher, recebendo a ajuda do Estado, conseguiria reconstruir sua vida com autonomia”, afirma.
O trabalho com mulheres vítimas de violência se torna mais complicado, pois no Brasil não existem dados oficiais sobre a violência doméstica. De acordo com a psicóloga Paula Prates, que durante cinco anos foi coordenadora do abrigo Casa da Mamãe, e que deixou o trabalho para fazer mestrado sobre mulheres abrigadas, “como nunca fizeram uma pesquisa para ser usada como referência nos atendimentos, resolvi fazer o mestrado pra entender a violência de maneira teórica”.
Paula relata que durante os anos de trabalho no abrigo, “o que mais me intrigava era o fato de que o número de mulheres que passavam por lá e conseguiam depois reconstruir uma nova vida, era quase o mesmo daquelas que voltavam para o agressor”.
Na avaliação da pesquisadora, o foco do trabalho dos abrigos deve ser a desconstrução da maneira como as abrigadas se reconhecem como mulher, e a construção de uma nova identidade, tentando “fazê-las entender que sofrem violência de gênero, ou seja, que apanham de seus maridos porque vivemos em uma cultura patriarcal que legitima a dominação do homem sobre a mulher”.
Para a teóloga Haidi Jarschel, a casa-abrigo não é apenas um lugar de esconderijo e proteção, mas também representa uma grande oportunidade das mulheres refazerem suas vidas. Foi isso mesmo que Ana fez. Um mês vivendo no abrigo foi suficiente pra que ela se reerguesse. Cheia de força e vontade de lutar, foi atrás de emprego. Desde então, está trabalhando no centro social.
Apesar do prazo estipulado para permanecer no abrigo ser de seis meses, como seu caso envolvia um parceiro criminoso, Ana ficou abrigada por onze. Durante esse tempo, aproveitou para juntar dinheiro, e, quando saiu, alugou uma casa para ela e o filho, pagando três meses adiantados.
Desde então, toda sua atenção está voltada aos tratamentos psicológicos que seu filho recebe. O histórico de violência desencadeou crises nervosas e de ansiedade, que o faz comer tudo que vê pela frente, como lápis de cor e cola.
Mas mesmo com todas essas vitórias, Ana ainda é uma mulher em risco. Seu ex-marido está preso em Recife, Pernambuco, por latrocínio (roubo seguido de morte), e ameaça, de dentro da prisão, a família de Ana.
Por isso, seus familiares não sabem onde ela mora, nem têm seu número de telefone. Ana olha no relógio, 13 horas em ponto: “Agora eu preciso ir, vou almoçar rapidinho pra voltar ao trabalho”. Trocamos um abraço forte, agradeço pela entrevista, ela responde: “Eu que agradeço por me deixar falar”.

Camila Martins é repórter.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carícias

Entre as casas noturnas, restaurantes e bares que agitam a Rua Augusta, no centro de São Paulo, encontra-se o Espaço Noir.
A primeira vista não passa de um Café com aparência moderna, todo decorado em banco e preto, onde é possível tomar uma taça de vinho e ler um dos tantos livros de arte e cinema que ficam nas estantes. Mas quando o relógio marca vinte e uma horas, e a fila se forma, vira sede do grupo teatral Club Noir, fundado em 2006 por Roberto Alvin e Juliana Galdino.
A proposta do grupo, influenciados pela Literatura Noir, escuro em francês, é discutir as mais obscuras questão humanas através dos textos de autores teatrais contemporâneos, entre eles Carícias, do catalão Sergi Belbel.
Durante uma hora de peça, cinco duplas de revezam no palco entre cenas em que as personagens são colocadas em situações limites, no mais alto grau de conflito e discussão entre pares próximos. Amantes, mãe e filha, irmãos, pai e filha, filho e mãe, todos assustados por fantasmas do passado que deixam marcas na alma e traduzem-se em agressividade. Tudo isso embalado pela agitação e fragmentação da vida urbana.
Todas as quintas-feiras do mês de junho, ás 21h.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Como NÃO conseguir ingressos para a FLIP

Segunda-feira, primeiro de junho. Na cidade de São Paulo, segundo o rodízio municipal de veículos, não rodam os carros com placas finais 1 e 2. Confesso que ter de sair de casa antes das sete da manhã as segundas-feiras sempre me incomodou muito, mas hoje não, não tinha desculpa para não chegar bem cedinho na fila de ingressos para FLIP.
E foi assim, faltando cinco minutos para as sete horas eu já estacionava meu carro em uma rua paralela a Avenida Paulista. Como a bilheteria da Fnac, ponto de venda dos ingressos, só abriria às dez da manhã, passei na padaria comprei um café, um pão de queijo, e fui toda feliz encarar três horas de espera sob um frio de 12º.
Tudo valia a pena, afinal, pra ver o Chico Buarque de pertinho até injeção na testa é bom negócio, umas horas de fila então, é moleza.
Mas enquanto o tempo ia passando, os boatos de que comprar ingressos para o evento era um verdadeiro caos foram aumentando. Aquelas pessoas que já tinham ido às feiras literárias dos anos anteriores começaram a contar suas péssimas experiências nas longas filas de espera que acabam com o sistema do Ingresso Fácil travando, nem preciso falar que minha gastrite já começou a bombar.
E não deu outra. Às dez horas em ponto a bilheteria abre, aquela confusão de velinhas querendo uma fila especial, fica combinado que seriam atendidos um da fila normal, um da fila de velinhos, e na hora que a primeira pessoa vai passar o cartão....FALHA DE SISTEMA!!!!!!!!!!!!
A galera começa a ficar estressada, todo mundo xingando todo mundo, as atendentes com cara de bunda, era óbvio que quando o sistema voltasse, as cadeiras pro Chico já iriam ter acabo. Tá na cara que eles fazem esquema e acabam com os ingressos das mesas principais antes mesmo das bilheterias abrirem.
Uma hora depois do começo da venda dos ingressos ninguém estava com o ingresso na mão. Dá pra acreditar? O cúmulo da falta de logística, de organização, e a maior falta de respeito com as pessoas que estavam ali. O que era pra ser a o instrumento de um momento de cultura e diversão, se torna dor de cabeça e mais estresse pros paulistanos acelerados.
E pra piorar um pouco mais, outro compromisso me obrigava a sair da fila até as onze horas, a solução? Passar o bastão pro namorado e o fazer ficar agüentando as velinhas raivosas.
O resultado final de cinco horas de fila foi um pouco frustrante, como falei os ingressos pro Chico não tinham mais, vou ter que vê-lo apenas pelo telão. Fala sério, daqui a pouco esse cara morre e eu nunca vou encontrá-lo, que raiva!!!!!
Conseguimos comprar pras outras palestras, entre elas a do Gay Talese, uma das mais esperadas, mas confesso que essa experiência traumática vai me fazer pensar duas vezes antes de querer ir pra FLIP do ano que vem.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Tardes de Outono

Os dias de chuva tornam-se intermináveis. Tardes longas, onde as horas se arrastam. Tudo se faz depressa, e as horas não passam.

A falta do sol remete ao aconchego da cama, o filminho bom com pipoca, até certa melancolia. Tão diferente do dinamismo daqueles dias em que o céu é tão azul que até dói o olho.

Chuvosas e intermináveis tardes de Outono, que tal um pouquinho de ânimo?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ó do Borogodó

Espero os amigos...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Maré

Essa mulher arrebenta!!! O show Maré é genial, mais de duas horas com as músicas do CD novo, os sucessos, e música de outros cantores, teve até Deixa o verão pra mais tarde.
Presente lindo, obrigada meu bem!


Seu Pensamento


A uma hora dessaspor

onde estará seu pensamento

Terá os pés na terra

ou vento no cabelo?


A uma hora dessas

por onde andará seu pensamento

Dará voltas na Terra

ou no estacionamento?


Onde longe Londres Lisboa

ou na minha cama?


A uma hora dessas

por onde vagará seu pensamento

Terá os pés na areia

em pleno apartamento?


A uma hora dessas

por onde passará seu pensamento

Por dentro da minha saia

ou pelo firmamento?


Onde longe Leme Luanda

ou na minha cama?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Triangulo e reisricardo.com


Sábado, dia 16, vai rolar o lançamento do zine Triangulo, com histórias de Ricardo Reis, Gustavo Aoyagi, e Henrique Koblitz. O Ri aproveita a festa a pra fazer o lançamento do seu site de ilustrações, o www.reisricardo.com .
Quem se animar pra ir prestigiar os meninos, ouvir boa música, e jogar conversar, o lançamento aconteceu no HQ Mix Livraria, que fica lá na Praça Roosevelt.

domingo, 10 de maio de 2009

Fernanda Montenegro na Bravo!

Entrevista lindissima...


“A vida é um Demorado Adeus”
Às vésperas de comemorar 80 anos, Fernanda Montenegro leva para os palcos o legado da escritora Simone de Beauvoir e reflete sobre a morte recente do marido, o ator Fernando Torres
Armando Antenore

Passava um pouco das 21 horas quando, naquele sábado de Aleluia, Fernanda Montenegro disse as últimas frases do monólogo Viver sem Tempos Mortos. Por 60 minutos, a atriz carioca interpretara Simone de Beauvoir (1908-1986) para as 350 pessoas que lotavam o teatro do Sesc em São João de Meriti, humilde e populoso município da Baixada Fluminense. Entre os que aplaudiam, destacava-se Wilson Ademar, negro de 93 anos, sapateiro aposentado, que nunca presenciara uma peça antes. Tão logo tomou conhecimento do espectador inusitado, Fernanda se comoveu e indagou publicamente: "O que o senhor imaginava toda vez que pensava num palco?". Wilson, tímido, respondeu: "Eu não imaginava".
Pois é sobretudo com a imaginação da plateia que a atriz parece contar enquanto incorpora a filósofa e escritora parisiense, ícone do feminismo e parceira de outro célebre filósofo, o existencialista Jean-Paul Sartre. Na mais despojada produção que estrelou em seis décadas de carreira, Fernanda vira Simone sem lançar mão de elementos que remetam fisicamente à personagem. Não há sotaque, não há trejeitos característicos, não há nem mesmo um figurino afrancesado. Com uma camisa social branca e uma calça preta, a atriz senta-se numa cadeira igualmente preta, único objeto em cena, e permanece lá durante toda a montagem, sob um persistente foco de luz. Narra, então, os principais momentos da intensa trajetória de Simone. Fala sempre na primeira pessoa, usando depoimentos da própria romancista, extraídos de livros e cartas.
O monólogo dirigido por Felipe Hirsch, que já percorreu a Baixada e a região serrana do Rio de Janeiro, desembarca agora em São Paulo como parte de um evento maior, batizado de Caminhos da Liberdade. A iniciativa prevê que, antes do espetáculo, o público assista a Uma Mulher Atual, documentário de Dominique Gros sobre Simone, e, depois, participe de um debate conduzido pela socióloga Rosiska Darcy de Oliveira, especialista no legado da filósofa.
De início, Fernanda planejava tocar o projeto com o ator Sergio Britto, que assumiria o papel de Sartre. No entanto, o colega preferiu desistir da empreitada para se dedicar à peça A Última Gravação de Krapp e Ato sem Palavras I. A atriz, que completa 80 anos em outubro, acatou a decisão e prosseguiu sozinha. No percurso, perdeu o marido, o também ator Fernando Torres.
Quem vê Simone discorrer sobre Sartre ao longo do monólogo dificilmente deixa de cogitar que talvez exista um subtexto ali — que talvez Fernanda esteja refletindo sobre o próprio companheiro, um modo delicado de absorver e superar a morte dele. No domingo de Páscoa, a artista recebeu a equipe de BRAVO! para uma conversa de quatro horas.

BRAVO!: Quando você entrou em contato com Simone de Beauvoir e os existencialistas?
Fernanda Montenegro : Logo depois da Segunda Guerra, no fim dos anos 40 e início dos 50. Era um período em que Simone e Jean-Paul Sartre despontavam como celebridades, como popstars. Todo mundo do meio artístico e intelectual queria entender o que pensavam. Eu, à época, trabalhava para a Rádio Ministério da Educação, a lendária Rádio MEC, que já se localizava no centro do Rio de Janeiro. Ingressei ali em 1945, ainda adolescente, por causa de um projeto que recrutava novos locutores, redatores e atores. Fiz o teste, uma leitura de poema, sem botar fé que me chamariam. Mas me chamaram e acabei passando uma década na emissora. Jamais imaginei que encontraria por lá um universo tão rico culturalmente. Tínhamos aulas de português e de declamação, além de palestras sobre os assuntos que abordávamos no ar. Por longo tempo, desfrutei do privilégio de apresentar o programa dominical Douce France (Doce França). Em função disso, pude me aproximar ainda mais das teses de Sartre e Simone.

Qual o primeiro livro dela que você leu?
Foi O Segundo Sexo, que saiu em 1949 e se transformou num clássico da literatura feminista, sobretudo por apregoar que as mulheres não nascem mulheres, mas se tornam mulheres. Ou melhor: que as características associadas tradicionalmente à condição feminina derivam menos de imposições da natureza e mais de mitos disseminados pela cultura. O livro, portanto, colocava em xeque a maneira como os homens olhavam as mulheres e como as próprias mulheres se enxergavam. Tais ideias, avassaladoras, incendiaram os jovens de minha geração e nortearam as nossas discussões cotidianas. Falávamos daquilo em todo canto, nos identificávamos com aquelas análises. Simone, no fundo, organizou pensamentos e sensações que já circulavam entre nós. Contribuiu, assim, para mudar concretamente as nossas trajetórias.

De que modo alterou a sua?
Sou descendente de italianos e portugueses, um pessoal muito simples, muito batalhador, e me criei nos subúrbios cariocas. Desde cedo, conheci mulheres que trabalhavam. E reparei que, entre os operários, na briga pela sobrevivência, os melindres do feminino e as prepotências do masculino se diluíam. Era necessário tocar o barco, garantir o sustento da família sem dar bola para certos pudores burgueses. Nesse sentido, a pregação feminista de que as mulheres deviam ir à luta profissionalmente não me impressionou tanto. Um outro conceito me seduziu bem mais: o da liberdade. A noção de que tínhamos direito às nossas próprias vidas, de que poderíamos escolher o nosso rumo e de que a nossa sexualidade nos pertencia. Eis o ponto em que o livro de Simone me fisgou profundamente. Lembro-me de quando vi pela primeira vez a cena da bomba atômica explodindo. Ou de quando me mostraram as imagens dos campos de concentração nazistas. O impacto negativo que aquilo me causou foi parecido com o impacto positivo que O Segundo Sexo exerceu sobre mim. Garota, já suspeitava que não herdaria o legado de minha mãe e de minhas avós, que não caminharia à sombra masculina. O livro de Simone me trouxe os argumentos para levar a suspeita adiante.

Sua mãe trabalhava fora?
Não. Era uma ótima dona de casa, uma administradora emérita do lar. Cuidava com carinho e eficiência de meu pai, um modelador mecânico, e das três filhas. Quando ficou viúva, caiu em depressão. Tinha mais de 80 anos e procurou uma psicanalista. Expôs as angústias à terapeuta e depois a ouviu, ouviu, ouviu. De repente, interrompeu a conversa e revelou: "Doutora, sabe do que gostaria mesmo? De liberdade". Veja bem: minha mãe precisou chegar à extrema velhice para conseguir expressar o que de fato almejava. Escutei testemunhos similares — e tardios — de outras mulheres idosas, como a minha sogra. Elas integravam uma geração que suportava a dor em silêncio, sem reclamações. "Caráter e espinha", proclamava minha mãe quando lhe indagavam quais os principais atributos femininos. Espinha para se curvar, compreende?
Os existencialistas teorizaram bastante sobre a liberdade humana. Diziam que "o homem será antes de mais nada o que desejar ser".

Você concorda?
Concordo. Somos os senhores de nossos atos, de nossas opções. "Deus ajuda quem cedo madruga", ensina o ditado popular. Se o homem não inventar o próprio destino, Deus não irá interferir.

Você crê em Deus? Simone não acreditava.
Ora acredito, ora desacredito. Ninguém me demonstrou a presença de Deus. Tampouco demonstrou o contrário. Eu talvez cultive uma fé imensa em meio à dúvida. Por outro lado, creio plenamente no acaso.

O homem nasce livre, mas o acaso tem a última palavra, dizia Simone.
Exato. O acaso se põe acima de qualquer teoria. É o grande mistério e a principal razão para a misericórdia. Os homens deveriam se irmanar justamente porque se sujeitam, todos, às leis insondáveis do acaso. O que me fez entrar na Rádio MEC com 15 anos? O que me fez superar a timidez juvenil e concorrer às vagas de locutora e atriz? Foi o acaso, em parte. Havia a minha vontade e havia o imponderável. Se tomasse outro rumo naquela ocasião, em quem iria me transformar? Não sei. Sei apenas que hoje me encontro onde sempre quis. Vivi sem tempos mortos.

Um slogan de maio de 1968: "Viver sem tempos mortos, gozar a vida sem entraves". Você pinçou um trecho dele para batizar sua peça, não?
É que realmente vivi sem tempos mortos, algo de que me orgulho. Mergulhei com avidez na existência que ganhei de Deus, da natureza ou do acaso. Realizei uma profissão que considero importantíssima — subir no palco para converter meu corpo em instrumento de discussões. Nunca roubei, nunca matei. Se impedi alguém de alcançar a felicidade, não me dei conta e peço desculpas. Peço perdão até. Não me julgo perfeita. Longe de mim! Carrego minhas zonas escuras, mas também umas zonas legais. Então... Elas por elas.

Que zonas escuras?
Sou rancorosa. Lógico que rejeito o sentimento e me policio: "Vamos largar de besteira!". No entanto... Ressinto-me igualmente de não ter mais disponibilidade para os amigos e a família. Às vezes, exagero na reclusão. Distancio-me de meus afetos. Quando penso nos colegas que se foram e na atenção insuficiente que lhes dediquei... Flávio Rangel, Renato Consorte, Paulo Gracindo, Lélia Abramo, Zilka Salaberry, Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Autran... Convivi tão pouco com o Autran... Sorte que, às vésperas de morrer, ele me mandou uma carta, comovido. Falava de coisas doces. Foi provavelmente a última carta que redigiu. A vida não passa disso, de um demorado adeus.

Em setembro de 2008, você assistiu à morte de seu marido, o ator e produtor Fernando Torres, companheiro de quase seis décadas. Como lidou com o fato?
Não lidei. Continuo lidando... Jamais a sensação do absurdo se mostrou tão palpável, tão nítida. Você não aceita aquele virar de página. Você nega a partida. O engraçado é que só me toquei de minha finitude depois de perder o Fernando. Claro que, antes, me observava no espelho e acusava a passagem dos anos. Mas não percebia que meu tempo está se esgotando, uma constatação terrível. Experimentar o desmonte psíquico, o desmonte muscular, o desmonte existencial... Não me parece fácil. Por enquanto, tudo vai bem. Disponho de vitalidade e ânimo para prosseguir. Consigo trabalhar 14, 18 horas por dia. Noto, porém, que algumas pessoas já me olham com assombro: "Ainda fala! Ainda se locomove!". Tornei-me um estranho fenômeno de resistência, como outros de minha idade. Mesmo assim, acho que a pior tragédia é morrer jovem. Não há nada mais triste do que a vida interrompida precocemente.

Fernando concordava com as ideias defendidas por Simone em O Segundo Sexo?
Sim, totalmente. Era um homem de tutano, de fibra, um homem libertário que recusava o machismo. Enfrentou meu sucesso e minha personalidade forte à maneira de um gigante. Em nenhum momento me castrou. Pelo contrário: me incentivou muito e, na função de produtor, buscou criar as melhores condições para meu progresso como atriz. Certas vezes, me vendo no palco, chorava de emoção. Se minhas conquistas o incomodavam, não deixou transparecer — atitude que considero de uma grandeza absoluta. Infelizmente, sofreu por 20 anos em razão de uma isquemia cerebral que, primeiro, lhe trouxe depressões violentíssimas e, depois, lhe prejudicou os movimentos. Um quadro tão terrível quanto inesperado. Uma armadilha do acaso. Meses antes de morrer, fez questão de me aguardar no aeroporto quando retornei de uma viagem à Itália. Estava contente e me acenou da cadeira de rodas. Segurava um buquê de flores. Perguntei: "Por que as flores, Fernando?". E ele: "Porque nosso terceiro neto acabou de chegar". Recebi a notícia do nascimento de Antônio assim, com flores.

Simone e Sartre protagonizaram uma relação aberta e se cercaram de vários parceiros sexuais. Você e Fernando viveram um casamento semelhante?
Não. Firmamos um pacto de fidelidade, que deveria se manter até onde desse. E deu! No meu caso, deu. Todas as minhas fantasias extraconjugais resolvi em cena, sem amargar qualquer frustração. Se por ventura não deu para o Fernando, respeito. Fomos transgressores à nossa moda, percebe? Qual a maior subversão que um casal pode praticar nos dias de hoje? Permanecer junto! Nós permanecemos — com altos e baixos, mas permanecemos.

Simone não teve filhos. Você gerou dois, a atriz Fernanda Torres e o cineasta Cláudio Torres. Maternidade e feminismo combinam?
Certamente. Mesmo orbitando em torno do ideário feminista, sempre desejei uma família. Nunca desprezei "o orgulho da carne". E não me arrependo: acima de tudo, sou a mãe de meus filhos. Mais que atriz, mais que a viúva do Fernando, sou a mãe de meus filhos.

Por que você resistiu à plástica, seguindo na contramão de tantos artistas? O feminismo a influenciou nesse terreno?
Não me oponho às cirurgias estéticas nem condeno quem as faça, mas receio perder minha cara. Óbvio que, à beira dos 80, gostaria de exibir um pescoço maravilhoso, eliminar as bolsas abaixo dos olhos, implodir a papada sob o queixo. O problema é que não me reconheceria sem tais "defeitos". Fora que, aderindo à plástica, ganharia uns dez anos e, em vez de ostentar 80, recuaria para 70. Qual a vantagem?

Você se julga bonita?
Ultimamente, quando espio fotos em que apareço jovem, enxergo certa graça ali. Na época, porém, me achava um estrepezinho — magra, sem peito, sem bunda, sem coxas. Eu fugia muitíssimo do padrão. Não me equiparava às beldades daquele momento: Doris Day, Marilyn Monroe, Tônia Carrero, Maria Della Costa. O curioso é que nem por isso me sentia inferior. Numa ocasião, a companhia de Henriette Morineau me contratou para assumir o papel de uma feiosa em um espetáculo — não lembro o nome da peça. Minha personagem rivalizava com uma prima linda e fogosa, um anjo exterminador, um furacão que seduzia o tio, os namorados alheios, o diabo. Num dos ensaios, arrumei coragem e confessei que não queria interpretar a feiosa. Queria encarnar o anjo exterminador. O resto do elenco me chamou de louca. Pois acabei pegando o papel e afirmo, com enorme alegria, que ninguém protestou na plateia. Ninguém ousou dizer que aquele estrepezinho não seria capaz de enfeitiçar deus e o mundo.

Já idosa, Simone declarou que não se deixaria escravizar pelo passado. Você também parece não se prender às glórias de outros tempos e abdica de títulos que a colocam em pedestais, como o de "primeira dama do teatro brasileiro". Por quê?
Entenda: prezo tudo que realizei, mas o passado é o passado. Terminou. Não pretendo me entregar às divagações do tipo "ah, meus verdes vales...". Rechaço a melancolia nostálgica e, à semelhança de Simone, frequentemente me pergunto: "Que espaço o passado reserva para a minha liberdade hoje?". Quanto à classificação de "primeira dama", não me ofendo. Em absoluto! Só avalio que o rótulo não me cabe. Vi e vejo atrizes extraordinárias na estrada. Não é possível que apenas uma envergue a coroa. Precisamos dividir os louros. Sem contar que a mídia e os críticos mencionam sempre as damas e nunca os lordes. Cadê os lordes? Nossos palcos estão repletos deles. Na verdade, títulos do gênero são a herança de um teatro romântico, heroico — um teatro que jamais busquei. Uma vez, a Nandinha, minha filha, filmou no México com o Anthony Hopkins e me escreveu de lá: "Mamãe, ele é igualzinho a gente". Correto! O ofício não nos tira do âmbito humano. Continuamos falíveis como qualquer indivíduo. Mesmo as divas tropeçam em cena, sofrem acessos horríveis de tosse, esquecem o texto, temem não dar conta do recado.

Você teme?
Muito! Desde moça, temo que me falte o sopro, o mistério da criação. Há artistas que perdem a chama de repente, sem saber o porquê. Não tenho consciência se já a perdi. Sinceramente não tenho. E talvez nem deseje ter.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Porcos e Leitões

Essa semana começou eufórica, a gripe do porco está assustando todo mundo, a OMS já disse que não tem mais como controlar o vírus, todo mundo andando de máscara cirurgica...parece mais que estamos no meio de um filme de ficção cientifica, e que quando menos esperarmos o "grade chefe porco" aparecerá dando declarações na televisão revelando que tudo isso é um grande plano de dominação da terra.

O "chefe porco" pode ainda não ter aparecido, mas a Mirian Leitão já fez seu papel de cavaleira do apocalipse e já disse que a economia vai pro buraco, coisa tal, por conta do embargo da carne suína e com a diminuição do turismo.

Sem contar a indústria farmacêutica que, aproveitando da situação, já fez circular em todos os veículos o nome Tamiflu, remédio que combate o vírus do porco....todo mundo quer garantir o seu!!!

Enquanto a gripe não chega por aqui vamos nos divertindo com a cobertura alarmante que a midiazona manda.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Festa de 12 anos da Caros Amigos

Hoje é dia festa!!!

A partir das 21h na Casa de Portugal, Avenida Liberdade, 602, vai rolar a festa de aniversário da Caros Amigos com as bandas Visite Nossa Cozinha e Destilaria do Groove. Quem se animar coloca o nome na lista pelo email divulga@carosamigos.com.br

quinta-feira, 16 de abril de 2009

malditas decupagens



A Lú, minha mika...huahauha

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Essa semana a cultura brasileira recebeu boas notícias.

Tá confirmada a data da Virada Cultural que acontece aqui em São Paulo nos dias 2 e 3 de maio, e que vai contar com shows do Marcelo Camelo (huhu!!), Geraldo Azevedo, Maria Rita, Nação Zumbi, Tom Zé, e mais muita gente boa. A Virada é uma data muito especial, pois é uma das poucas oportunidades que se pode andar no centro da cidade a noite, coisa linda!!! O triste é não poder fazer isso no ano todo...

Outra coisa muito legal que está rolando é o Festival de Outono no Teatro Oficina, vai até 15 de maio.

Agora a notícia mais bombástica de todas:

O Chico Buarque confirmou a presença na FLIP desse ano!!!!!!!!!! Dessa vez ele não me escapa....hehehehe

domingo, 5 de abril de 2009

Mais um fora da Folha

A entrevista com a ministra Dilma Rousseff publicada hoje no site da Folha (como não vi a versão imprensa, não sei se a entrevista também está lá) é mais uma demonstração do jornalismo tendencioso que eles estão fazendo questão de produzir nos últimos meses.
Está mais que claro que nas perguntas mal feitas e a falta de edição das respostas, eles estão querendo prejudicar a imagem da ministra. Basta notar a quantidade de "santa" e "filha" que estão no texto. Em nenhuma outra entrevista publicada na Folha de São Paulo esse tipo de edição foi adotada, o que mostra claramente a opção política do jornal. (tucana, claro)
Desde fevereiro, quando lançaram a pérola da "ditabranda", maneira inteiramente equivocada e descolada da realidade em que se referiram sobre o período de ditadura no Brasil, o jornal vem cristalizando sua posição conservadora e agressiva.
Resta saber até onde essa ganância jornalística irá chegar...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Certos momentos na vida exigem isolamento. Pras idéias clarearem e as opiniões se consolidarem, nada como pensar sozinho.
Palpites e conselhos - de amigos, claro - são sempre muito bem vindos, mas em algumas ocasiões nem eles podem interferir, e isso não quer dizer que eles não sejam importantes.
Tudo na vida depende só de quem a vivie.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Penteado

"Sentou-se. 'Vamos ver o grande cabeleireiro', disse me rindo. Continuei a alisar os cabelos, com mjuito cuidado, e dividi-los em duas porções iguais, para compor as duas tranças. Não as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tato aqueles fios grossos, que eram parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de propósito, para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite. Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi aos céus que eles fossem longos como o da Aurora, porque não conhecia ainda essa divindade que os velhos poetas me apresentaram depois, mas desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa..."

Dom Casmurro, Machado de Assis.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Caros Amigos de fevereiro

Sei que já estamos no final do mês de fevereiro, mas não custa nada falar que a Caros Amigos de fevereiro está nas bancas com uma série de artigos e reportagens sobre a questão Palestina, uma das matérias é minha.

No site www.carosamigos.com.br também tem uma outra matéria da página principal.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Era tudo mentira minha gente...

Na última postagem defendi a posição de que a brasileira Paula Oliveira foi atacada na Suiça, mas as últimas notícias, enfim, esclarecem o que aconteceu.

Para a tristeza de todos os brasileiros, e desespero daqueles que ainda acreditam na humanidade, Paula Oliveira confessou ter se auto-multilado e inventado a gravides.

Uma vergonha para todos nós...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Os eternos colonizadores

Na última semana, o caso da brasileira agredida na Suiça foi o grande assunto da mídia.

Logo nos primeiros dias depois do acontecimento a mídia brasileira estava solidária com o caso, falando de crime neonazista, entrevistando o Secretário dos Direitos Humanos, indignada com o tratamento dado no primeiro mundo.

Mas no decorrer da semana o tratamento foi mudando. Depois das declarações de peritos, da polícia, e da mídia suiça afirmando que a própria advogada brasileira tinha se auto-multilado e inventado uma gravidez, a nossa imprensa viajou nesse mesmo barco e passou a tratar esse crime como uma "suposta agreção".

Esse caso é um bom exemplo da relação colonizadores x colonizados que ainda existe no mundo. A Suiça, um país rico, com a criminalidade quase zero, com pessoas civilizadas, não pode deixar que o mundo todo saiba que lá existe jovens preconceituosos, agressivos, que ainda perpetuam em suas mentes a doentia idéia da raça superior. Por isso é preciso desmoralizar a gentinha lá de baixo, que vai pra Europa e ainda arruma confusão, e pra isso vale até artigo no jornal dizendo que no Brasil é comum as mulheres inventarem gravidez para garantir marido.

É pra pior ainda mais a diplomacia entre os países, o líder do Partido para o Povo Suiço, dono das siglas SVP que foram riscados no corpo da advogada, disse que o presidente Lula deveria pedir desculpas pelas declarações.

Isso tudo é um grande absurdo, uma insanidade que, se a mídia brasileira não se posicionar, vai perpetuar para o mundo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Despedida do Mino

Uma notícia me marcou a noite de ontem. Durante o jantar de aniversário da minha sogra o André disse: "Você viu que o Mino Carta parou de escrever?" Fiquei chocada com a notícia, sem entender direito.

Quando cheguei em casa liguei o computador e li o post de despedida (www.blogdomino.com.br), logo no começo do texto ele escreve: "Quando escolhi o Brasil como lugar definitivo da minha vida, optei também sobre o jornalismo."
E pelas justificativas apresentadas no texto, é a situação do Brasil de hoje, a decepção com o governo Lula, e a opção do Brasil em considerar Battisti como refugiado político, que o levaram a desistir no jornalismo.

Duas semanas atrás tive a oportunidade de conhecer Mino Carta pessoalmente, fui entrevistá-lo para uma matéria que estou fazendo para a Caros Amigos. Naquela mais de uma hora de conversa ouvi relatos da história moderna do Brasil pela boca de um de seus protagonistas.

Uma das perguntas que fiz foi sobre a situação da grande mídia hoje, e quais as perspectivas dele pro futuro, ele me respondeu categoricamente que para se obter mudanças "só com muito sangue na calçada." Mas esse é um processo duro e a longo prazo.

Enquanto não alcançamos tal objetivo, eu acredito que o papel desempenhado pela imprensa independente é fundamental. É o contra-ponto a informação dominante, a brecha do pensamento crítico.

Mino Carta tem seus motivos pra ter tomado essa decisão, só que mais uma vez a sociedade sai prejudicada por ter perdido uma de suas melhores cabeças.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vale o ingresso...


A boa divulgação e os comentários empolgados dos amigos me levaram á uma das salas do Espaço Unibanco para assistir "A troca", novo filme de Clint Eastwood, estrelado por Angelina Jolie.


As primeiras cenas monótonas do filme me fizeram pensar que ia ser tudo uma grande decepção, mas com o decorrer da história as emoções vão se misturando. Em quase duas horas pude sentir raiva da Angelina Jolie, com aquele tom de voa mole em meio a situações terríveis, fiquei puta com as instituições e como elas servem apenas para manipular a vida das pessoas, e fiquei enjoada com que o homem pode fazer.


É um daqueles filmes que você sai mal do cinema, ainda mais sabendo que ele foi baseado em fatos reais. Vale o dinheiro do ingresso, vale ainda mais as reflexões.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"Chelsea Hotel", Antonio Berni, 1977

Tive a oportunidade de ver essa pintura pessoalmente em maio de 2008, ela faz parte do acervo permanente do Malba - Museu de Arte Latina-Americana de Buenos Aires.
Esse museu é gênial, tem Frida Kahlo, Diego Rivera, Tarsila do Amaral (o Abapurú também é do acervo), Di Cavalcanti, e mais uma variedade de artistas incríveis.
Eu não conhceia nada do Berni e fiquei encantada com tudo que vi dele, ilustrações, esculturas, e principalmente as pinturas, que misturam a tinta com a colagem. Nessa tela, por exemplo, a cortina e as meias são colagem.
Passeio inesquecível!!!


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Tristes Cenas...

http://www.dailymotion.com/video/x7wcea_ca-fait-mal-au-coeur-gaza-palastin_news

O link é de um vídeo gravado minutos depois da explosão de uma bomba na Faixa de Gaza. As cenas são terríveis, tristes, fortes...

No ano de 2009, o mínimo que poderíamos exigir dos homens é a racionalidade, e é justamente ela que falta nos dias de hoje.

Não sou a favor da violência, nem quando o assunto é revolução, mas depois desses ataques desleiais e assimétricos que Israel está promovendo contra os Palestinos eu não posso tirar a razão daqueles colocam uma bomba no seu próprio corpo como forma de protesto e resistência.

O que Israel está fazendo é um genocídio.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

2009...

Passada a euforia do final do ano tudo volta ao normal. Cada um de volta a rotina, e o fim do primeiro dia de trabalho já é cansativo demais. Colocar as coisas em ordem depois de 10 dias totalmente despreocupados é um pouco alucinante, quando me dei conta estava fazendo dez coisas ao mesmo tempo e não tinha chegado a lugar nenhum....sem problemas, tenho mais 36o dias pra dar um jeito nisso.O ano passado terminou bem, na Ilha do Mel, Paraná. Pra mim, paulistana nata, trancafiada nas armações de concreto da cidade, a natureza emociona. Com direito a ver golfinho e tudo. Momento de total desintoxicação da mente, livre de tv, de internet, buzina, trânsito, gente reclamando....só espaço pras pessoas queridas e pro Dom Casmurro, livro que depois de 7 anos (caraca, já faz tudo isso que sai da oitava série!) voltei a ler.O meu nível de alienação com o mundo fora da ilha era tanto que só na sexta-feira a noite, quando cheguei em São Paulo, que fiquei sabendo dos conflitos lá na faixa de Gaza. Mais de 500 mortos, Israel invadindo por terra. É inexplicável o poder auto-destrutivo do homem, ainda mais sabendo que esse conflito dura mais de 2 mil anos, e o motivo é santo.