quinta-feira, 25 de junho de 2009

Agora jornalismo é para quem quiser, graças a Deus

artigo do Ziba sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo, no site www.carosamigos.com.br

Por Marcos Zibordi

Ok, sou mais um a escrever sobre o fim da exigência do diploma para jornalistas. Relutei em fazer este artigo, mas a indignação dos profissionais me toca. Estão putíssimos, é fato. Meus alunos, preocupados. Eu adorei. Agora, jornalismo é para quem quer fazer jornalismo, não para quem teve a chance econômica de adquirir o diploma que permite exercer a profissão.Sem dúvida, as razões de Gilmar Mendes e seus pares são equivocadas – eles pensam que o jornalismo não pode prejudicar a sociedade, opinião realmente inacreditável.
Contudo, assusto igualmente com os argumentos dos jornalistas, especialmente um: o diploma garante, no mínimo subsidia, a qualidade do exercício profissional. Será preciso lembrar quantos casos para demonstrar o contrário? Escola Base? A edição do debate Lula-Collor? A sanha de abutres na morte de Isabella Nardoni? Ou o assassinato de “garota Eloá”, promovido por diplomados?
Aliás, menos: é só ler jornais, revistas; acompanhar rádio e televisão; ler os famigerados releases das assessorias de imprensa. Em geral, o jornalismo praticado no Brasil é tecnicamente medíocre, a repetição de si mesmo, quem viu um viu todos. Não falo de ética, compromisso social, não sonho tanto. Penso na proclamação do textozinho padrão, o verbo “disse” após a citação, a malandragem da isenção, da imparcialidade, a incapacidade narrativa, a capacidade de aliciar sem ser sexy.
O jornalismo brasileiro ainda não decidiu se pronuncia “risco de vida” ou “risco de morte” e chama o PCC de “quadrilha que age dentro e fora dos presídios”, evidenciando-os com a expressão pomposa que pretendia ocultá-los.Os jornalistas também esperneiam pela possibilidade de perderem conquistas históricas. Ora, por séculos existimos sem diploma, coisa que imperou no Brasil por somente 40 anos. Não estou negando os nacos arrancados a duras penas das montanhas de dinheiro desse bando de Tio Patinhas, empresários da comunicação. Porém grandes conquistas dos trabalhadores em jornalismo são anteriores à ditadura e à exigência do diploma, tipo a instituição do primeiro piso salarial e da jornada de cinco horas, resultado da greve de 1961, organizada pelo sindicato dos jornalistas de São Paulo - mas quando foi mesmo a última greve dos jornalistas, a mobilização que deu notícia?
Fico me perguntando sobre a nossa situação. Pesquisas demonstram que a profissão figura entre as mais insalubres e, após quarenta anos da “categoria organizada” no Brasil, somos explorados ao extremo, recebemos miséria, trabalhamos pra cacete. Sabe qual o salário de um jornalista na capital paulista? O piso é de R$ 1.738,25 para quem trabalha cinco horas (duvido que exista um) em jornal ou revista. No interior, rádios e televisões pagam R$ 861,85.
Imagino que vários cozinheiros ganhem melhor.Sobre os presumíveis direitos dos jornalistas, risíveis. Inúmeras redações funcionam com legiões de diplomados “contratados” temporariamente. A Editora Abril, a maior do ramo, ajusta freelancers por exatos dois meses e 29 dias, para não caracterizar vínculo empregatício aos três meses. Surgiu “no meio jornalístico” a expressão de todo escrota: “frila-fixo”. Designa o jornalista temporário que trabalha direto e reto na mesma empresa, às vezes anos, sem nenhum direito.
Para os que defendem seus canudos, duas perguntas: por que vocês aceitaram e aceitam ter aulas, talvez a maioria delas, com professores que não são nem nunca foram jornalistas, inclusive em disciplinas específicas? Não seria mais, digamos assim, lógico, receber formação de gente da área, já que, como diz a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o jornalismo é “uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética”?Há ainda o argumento da “contratação de qualquer um” pelas empresas de comunicação.
Percorri os telejornais e desde a decisão do Supremo Tribunal Federal não assisti a cena clássica, filmada do helicóptero, a fila de candidatos a emprego dobrando a esquina, hordas de bárbaros aspirantes ao jornalismo prestes a invadir as redações, suas pastinhas nervosas no sovaco, o currículo dentro. Não haverá “invasão”, palavra que amestrados diplomados usam sempre para denegrir a legítima e última solução da gente mais explorada deste país. Amestrados: são conhecidos “no meio jornalístico” pela acrobática alcunha de “focas”. Com o fim da reserva de mercado, lo siento, os penetras com vocação e preparo, sim, concorrerão com nosotros. Dando aulas em cursinhos populares, inclusive dentro da Universidade de São Paulo (USP), cansei de ouvir lamentações de jovens pobres que sonhavam um dia ser jornalistas, mas não podiam, não poderiam nunca concorrer à vaga na universidade pública, nem financiar a particular. Treta, né? Quanto vale um sonho impedido?Por fim, relaxem, os cursos de jornalismo sobreviverão, e nem sei se precisarão justificar sua existência. Em geral eles prestam enorme serviço aos patrões formatando o futuro profissional, aulinhas de lide durante meses, exercícios práticos que achatam a criatividade, a sagacidade, o tesão dos alunos com asneiras do tipo “não use adjetivo”, “seja objetivo”, “seja imparcial”. Não duvido nada que permaneçam as picaretagens típicas de sala de aula, aqueles mestres que vivem de um difuso, duvidoso e remoto passado profissional, ou os chatos capazes de criar esta impossibilidade ambiental: o clima de marasmo tenso.
Continuidades à parte, torço agora pelo próximo passo evolutivo: a extinção da obrigatoriedade do diploma de Direito. É praticamente impossível, eu sei, inclusive a Ordem dos Advogados do Brasil apóia a exigência para jornalismo, imagina se mexerão no deles. Mas não custa nada sonhar com o dia em que velhinhos não precisarão mais recorrer a um advogado para pedir revisão de aposentadoria, por exemplo.

Marcos Zibordi é jornalista.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Apenas o fim


Há tempos eu não me divertia tanto em um filme como me diverti assistindo "Apenas o Fim", filme de Matheus Souza, feito no ano passado.

A menina (Érika Mader) resolve mudar de cidade e de vida, deixando tudo pra trás, inclusive o namorado (Gregório Duvier), e ela vai procurá-lo na faculdade para passar a última hora deles juntos.

O filme é todo radado na PUC-RIO, e Matheus Rocha era aluno do 5º período de cinema quando o filmou, junto de uma equipe formada também por alunos do curso.

"Apenas o Fim" recebeu o prêmio de melhor filme do Jure Popular, na 32º Mostra de Cinema Internacional de São Paulo.

O roteiro do filme é muito bom, diria até que dá pra se identificar com eles em diversos momentos. =)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Mulheres de Coragem

matéria que está na Caros Amigos de junho, espero que gostem.

Vítimas da violência doméstica, elas encontram nas casas-abrigo a proteção e a chance de mudar de vida

Camila Martins

Ana é a responsável pela limpeza do centro social de uma igreja na grande São Paulo. Morena bonita, beirando os 35 anos, conversa bastante e sorri enquanto trabalha. Quando dá meio-dia, hora de seu almoço, avisa: “Vamos porque só tenho uma hora.” Enquanto seguimos em direção a uma das salas, explico que a matéria é sobre abrigos para mulheres que sofrem violência doméstica. Ana começa a tremer, e assim que sentamos ela diz, com voz engasgada: “falar disso ainda é muito difícil pra mim.”
Baiana de Salvador, Ana conheceu seu ex-marido, D., quando ainda era menina. “Ele sempre ficou atrás de mim, dizendo que me amava, até que, aos 18 anos, aceitei namorar com ele”. Depois de um tempo juntos, D. mudou-se para São Paulo para “tentar a vida”. Sete meses depois, Ana foi fazer uma visita ao namorado, e acabou ficando. Nunca suspeitou da agressividade do companheiro.
O primeiro soco aconteceu depois de quatro meses na capital paulista. “Estávamos em uma festa quando percebi que ele estava me desrespeitando, dando em cima de outras mulheres na minha frente. Falei isso pra ele, mas ele não respondeu nada. Assim que chegamos em casa, ele se transformou. Trancou a porta do quarto e me deu um soco na cara. Me fez deitar de lado no chão, sem roupa, e disse que se eu me mexesse ia me esfaquear. Fiquei assim das seis da manhã até às sete da noite”, recorda Ana. A alegação que D. dava para bater na esposa era que Ana não era mais virgem quando começaram o relacionamento.
Também foi nessa época que D. ficou desempregado e entrou para a vida do crime. Não demorou muito pra que fosse preso. No feriado de sete de setembro, Ana estava em casa quando o marido apareceu. Tinha fugido. “Fiquei com medo, mas deixei que ficasse lá porque eu ainda gostava dele. Foi dessa vez que eu engravidei. Em nenhum momento ele aceitou a gravidez, me batia e xingava toda hora, dizia que ia abrir minha barriga com a faca e tirar a criança de dentro.”
Com o tempo, as agressões foram aumentando. Ana era agredida verbalmente. Tapas e pontapés também eram comuns. Até que chegou a vez do abuso sexual.
Depois de um assalto que D. e os amigos fizeram, eles foram comemorar com uma festa na casa de Ana, que durou o dia todo. “Eles usaram muita droga. Fiquei esperando do lado de fora, até que anoiteceu e eu precisava colocar meu filho pra dormir. Quando entrei em casa, ele olhou pra mim e disse: ‘me espera lá em cima porque hoje eu estou animado e quero transar com você a noite inteira’. Deitei na cama e fingi que estava dormindo, estava morrendo de medo. Quando ele chegou perto, cumpriu o que disse. Me estuprou durante toda a noite.”

Mais violência
Ana não reagia. Entrou em depressão, largou o emprego, parou de tomar banho e chegou a pesar 38 quilos. Só saía de casa às segundas-feiras, para levar o filho na fonoaudióloga. Nunca buscou ajuda, até o dia da inauguração de uma Casa de Referência em sua rua. No entanto, mesmo sabendo dos seus direitos, Ana não quis fazer boletim de ocorrência.
Só depois da terceira fuga de D. da penitenciária, Ana começou a mudar de opinião. Mesmo sem ter mais nenhum vínculo afetivo com o marido, ela aceitou a permanência dele na casa até que arrumasse um lugar para ficar. Enquanto isso, ele dormiria em um colchonete na cozinha. As agressões só pioraram.
“Ele me xingava o dia inteiro de puta, de vagabunda, dizia que eu só estava fazendo aquilo porque estava com outro homem. Era tanto palavrão que o meu filho falava: ‘respeita a minha mamãe, meu papai’”.
Muitas noites, Ana acordava assustada achando que estava sendo alisada. “Tinha certeza que ele estava fazendo isso, mas fazia eu me passar por louca”. Certa vez, acordou no meio da noite com um barulho de faca raspando no chão. “Fui correndo na cozinha ver o que estava acontecendo, abri uma das gavetas e vi que o facão de cortar coco tinha sumido. Ele começou a dar risada e me mostrou o facão escondido embaixo do colchão, disse que ia me matar naquela noite. Acho que ele só não me matou porque meu filho ajoelhou nos pés dele implorando pra ele não fazer nada.”
O ponto final chegou no dia em que Ana virou a agressora. “Mais uma vez, durante a noite acordei com ele querendo se masturbar em cima de mim, com o meu filho deitado do meu lado. Fiquei maluca, fora de mim. Cravei minha unha na bochecha dele até sair sangue. Ele não teve reação nenhuma, só pedia para eu parar de fazer aquilo em nome do nosso filho – argumento que eu sempre usava quando ele me batia. Enquanto isso, eu enchia ele de soco, de mão fechada mesmo. Mordia com tanta força, que tirava os pedaços de carne da boca. Só parei quando meu filho acordou chorando e viu o pai todo ensanguentado. Foi ali que eu vi que não podia mais continuar naquela vida, dentro daquela casa. Quando amanheceu, o D. saiu, eu peguei algumas peças de roupa, filho, cachorro, e fui direto pra Casa de Referência. De lá, fui levada pra um abrigo”.

Luta do movimento feminista
“Mas o que é um abrigo?”. Tal pergunta, que não saía da cabeça de Ana durante o percurso entre a Casa de Referência e o local, também é uma questão obscura pra maioria da população. Geralmente confundido com albergues para pessoas que estão em situações de desamparo social, como andarilhos e meninos de rua, as casas-abrigos são resultado dos anos de luta do movimento feminista no Brasil.
Durante a década de 1970, o Brasil vivia seus anos mais duros. A ditadura militar assolava o país com repressão e tortura. Enquanto o debate sobre o tema fervilhava, o movimento feminista trazia a público outro tipo de violência que acontecia no âmbito privado, a violência contra a mulher.
O período foi marcado por dois assassinatos que ganharam grande repercussão. Em 1970, o procurador da Justiça Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo matou com 11 facadas a esposa Margot Proença Gallo. Em 1976, Doca Street atirou três vezes no rosto e uma na nuca da namorada Ângela Diniz. Ambos os assassinatos foram motivados por ciúmes e supostas traições, e, quando levados à justiça, foram justificados como legítima defesa da honra.
No entanto, foi só na década de 1980 que os assassinatos de mulheres pelos seus parceiros foram reconhecidos como crime. Mais uma vez, as feministas tomaram à frente, na ausência de políticas públicas para o tema. Assim, criaram, em 1980, o SOS Mulher, centro de apoio que contava com trabalho de advogadas, psicólogas e grupos de reflexão, tudo com trabalho voluntário.
Pouco depois, foi criada a Delegacia da Mulher, e em 1986, a Secretária de Segurança Pública montou o Comvida, Centro de Convivência para Mulheres Vítimas de Violência Doméstica, primeira casa-abrigo do Brasil. Hoje, o país conta com 70 abrigos, sendo 16 deles no Estado de São Paulo.
A casa abrigo é o local onde são levadas mulheres que estão sendo ameaçadas de morte por seus companheiros. Com endereço sigiloso, a mulher que procura esse serviço já é vítima de violência doméstica crônica.
Quando consegue identificar essa situação, é necessário que ela deixe tudo pra trás: casa, emprego, amigos. É recomendável, até, que tire o filho da escola. Só assim consegue preservar sua vida. E foi isso que aconteceu com Ana.

Políticas públicas
Mas o abrigo não é um hotel, nem um mero depósito de mulheres. Quem explica a função do serviço é a teóloga Haidi Jarschel. De acordo com ela, para apresentar resultados, uma política de abrigo deve estar ancorada em um tripé: “Na segurança e proteção das mulheres e seus filhos, garantindo boas instalações, alimentação, higiene, e ética dos profissionais em relação ao sigilo absoluto do lugar; no trabalho psicossocial, no sentido de fortalecer essas mulheres para elaborar um novo projeto de vida que rompa com o ciclo de violência; e na rede de políticas publicas em volta que possam oferecer suporte quando ela sai do abrigo. E este é o grande problema”.
Haidi foi por vários anos coordenadora do Abrigo Regional do ABC, projeto bem sucedido que, através de um consórcio entre as sete cidades da região, já atendeu centenas de mulheres.
Para a teóloga, o trabalho regional é interessante não só pelo fato dos municípios dividirem os gastos com o serviço, que custa, em média, de R$ 800 a R$ 1000 por pessoa (esse valor inclui apenas alimentação, água, luz, e pagamento dos profissionais que trabalham na casa); mas porque também contribui com a segurança da mulher.
No entanto, mesmo com todos os benefícios que o abrigo pode proporcionar, ele não deve ser entendido com um fim, nem mesmo trabalhar sozinho, apontam especialistas. Hoje, o serviço de apoio à mulher encontra-se ancorado na tríade: casa de referência, delegacia da mulher e casa-abrigo. Porém, todas as entrevistadas registraram o sucateamento das delegacias, que trabalham com funcionárias mal treinadas.
De acordo com a coordenadora da Casa de Referência Eliane de Gramont, Graziela Acquaviva, o abrigo também tem que estar ligado a uma rede de políticas públicas em sua volta. No entanto, na prática, não é isso que acontece, pois “em tempo de Lei Maria da Penha, o abrigo deveria ser o último dos recursos. Se a polícia garantisse a segurança daquela mulher que conta com a medida de proteção que impede a aproximação do marido, ela não precisaria deixar tudo pra trás”, critica.

Ausência de dados
Graziela lembra também que “outra coisa muito importante que não existe é uma política de aluguel social, que seria uma alternativa ao abrigo, pois a mulher, recebendo a ajuda do Estado, conseguiria reconstruir sua vida com autonomia”, afirma.
O trabalho com mulheres vítimas de violência se torna mais complicado, pois no Brasil não existem dados oficiais sobre a violência doméstica. De acordo com a psicóloga Paula Prates, que durante cinco anos foi coordenadora do abrigo Casa da Mamãe, e que deixou o trabalho para fazer mestrado sobre mulheres abrigadas, “como nunca fizeram uma pesquisa para ser usada como referência nos atendimentos, resolvi fazer o mestrado pra entender a violência de maneira teórica”.
Paula relata que durante os anos de trabalho no abrigo, “o que mais me intrigava era o fato de que o número de mulheres que passavam por lá e conseguiam depois reconstruir uma nova vida, era quase o mesmo daquelas que voltavam para o agressor”.
Na avaliação da pesquisadora, o foco do trabalho dos abrigos deve ser a desconstrução da maneira como as abrigadas se reconhecem como mulher, e a construção de uma nova identidade, tentando “fazê-las entender que sofrem violência de gênero, ou seja, que apanham de seus maridos porque vivemos em uma cultura patriarcal que legitima a dominação do homem sobre a mulher”.
Para a teóloga Haidi Jarschel, a casa-abrigo não é apenas um lugar de esconderijo e proteção, mas também representa uma grande oportunidade das mulheres refazerem suas vidas. Foi isso mesmo que Ana fez. Um mês vivendo no abrigo foi suficiente pra que ela se reerguesse. Cheia de força e vontade de lutar, foi atrás de emprego. Desde então, está trabalhando no centro social.
Apesar do prazo estipulado para permanecer no abrigo ser de seis meses, como seu caso envolvia um parceiro criminoso, Ana ficou abrigada por onze. Durante esse tempo, aproveitou para juntar dinheiro, e, quando saiu, alugou uma casa para ela e o filho, pagando três meses adiantados.
Desde então, toda sua atenção está voltada aos tratamentos psicológicos que seu filho recebe. O histórico de violência desencadeou crises nervosas e de ansiedade, que o faz comer tudo que vê pela frente, como lápis de cor e cola.
Mas mesmo com todas essas vitórias, Ana ainda é uma mulher em risco. Seu ex-marido está preso em Recife, Pernambuco, por latrocínio (roubo seguido de morte), e ameaça, de dentro da prisão, a família de Ana.
Por isso, seus familiares não sabem onde ela mora, nem têm seu número de telefone. Ana olha no relógio, 13 horas em ponto: “Agora eu preciso ir, vou almoçar rapidinho pra voltar ao trabalho”. Trocamos um abraço forte, agradeço pela entrevista, ela responde: “Eu que agradeço por me deixar falar”.

Camila Martins é repórter.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carícias

Entre as casas noturnas, restaurantes e bares que agitam a Rua Augusta, no centro de São Paulo, encontra-se o Espaço Noir.
A primeira vista não passa de um Café com aparência moderna, todo decorado em banco e preto, onde é possível tomar uma taça de vinho e ler um dos tantos livros de arte e cinema que ficam nas estantes. Mas quando o relógio marca vinte e uma horas, e a fila se forma, vira sede do grupo teatral Club Noir, fundado em 2006 por Roberto Alvin e Juliana Galdino.
A proposta do grupo, influenciados pela Literatura Noir, escuro em francês, é discutir as mais obscuras questão humanas através dos textos de autores teatrais contemporâneos, entre eles Carícias, do catalão Sergi Belbel.
Durante uma hora de peça, cinco duplas de revezam no palco entre cenas em que as personagens são colocadas em situações limites, no mais alto grau de conflito e discussão entre pares próximos. Amantes, mãe e filha, irmãos, pai e filha, filho e mãe, todos assustados por fantasmas do passado que deixam marcas na alma e traduzem-se em agressividade. Tudo isso embalado pela agitação e fragmentação da vida urbana.
Todas as quintas-feiras do mês de junho, ás 21h.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Como NÃO conseguir ingressos para a FLIP

Segunda-feira, primeiro de junho. Na cidade de São Paulo, segundo o rodízio municipal de veículos, não rodam os carros com placas finais 1 e 2. Confesso que ter de sair de casa antes das sete da manhã as segundas-feiras sempre me incomodou muito, mas hoje não, não tinha desculpa para não chegar bem cedinho na fila de ingressos para FLIP.
E foi assim, faltando cinco minutos para as sete horas eu já estacionava meu carro em uma rua paralela a Avenida Paulista. Como a bilheteria da Fnac, ponto de venda dos ingressos, só abriria às dez da manhã, passei na padaria comprei um café, um pão de queijo, e fui toda feliz encarar três horas de espera sob um frio de 12º.
Tudo valia a pena, afinal, pra ver o Chico Buarque de pertinho até injeção na testa é bom negócio, umas horas de fila então, é moleza.
Mas enquanto o tempo ia passando, os boatos de que comprar ingressos para o evento era um verdadeiro caos foram aumentando. Aquelas pessoas que já tinham ido às feiras literárias dos anos anteriores começaram a contar suas péssimas experiências nas longas filas de espera que acabam com o sistema do Ingresso Fácil travando, nem preciso falar que minha gastrite já começou a bombar.
E não deu outra. Às dez horas em ponto a bilheteria abre, aquela confusão de velinhas querendo uma fila especial, fica combinado que seriam atendidos um da fila normal, um da fila de velinhos, e na hora que a primeira pessoa vai passar o cartão....FALHA DE SISTEMA!!!!!!!!!!!!
A galera começa a ficar estressada, todo mundo xingando todo mundo, as atendentes com cara de bunda, era óbvio que quando o sistema voltasse, as cadeiras pro Chico já iriam ter acabo. Tá na cara que eles fazem esquema e acabam com os ingressos das mesas principais antes mesmo das bilheterias abrirem.
Uma hora depois do começo da venda dos ingressos ninguém estava com o ingresso na mão. Dá pra acreditar? O cúmulo da falta de logística, de organização, e a maior falta de respeito com as pessoas que estavam ali. O que era pra ser a o instrumento de um momento de cultura e diversão, se torna dor de cabeça e mais estresse pros paulistanos acelerados.
E pra piorar um pouco mais, outro compromisso me obrigava a sair da fila até as onze horas, a solução? Passar o bastão pro namorado e o fazer ficar agüentando as velinhas raivosas.
O resultado final de cinco horas de fila foi um pouco frustrante, como falei os ingressos pro Chico não tinham mais, vou ter que vê-lo apenas pelo telão. Fala sério, daqui a pouco esse cara morre e eu nunca vou encontrá-lo, que raiva!!!!!
Conseguimos comprar pras outras palestras, entre elas a do Gay Talese, uma das mais esperadas, mas confesso que essa experiência traumática vai me fazer pensar duas vezes antes de querer ir pra FLIP do ano que vem.